DESABAFO
Esse é um blog de decoração, portanto um blog delicadamente fútil. Mas quem escreve esse blog não leva uma vida fútil e nem superficial. Sorrio, choro, trabalho, durmo, como, vou ao banheiro, amo, odeio, quase sempre muito profundamente. Pensei, ‘Vivianne, esse não é o lugar’. É sim, pois é minha casa, e é em casa que lavamos roupa suja, que choramos no chuveiro, que puxamos nossa angústia. E eu preciso muito falar pra não engasgar. Escrever é a minha forma de pensar, sempre foi.
Ando muito triste. Primeiro porque o meu chefe morreu. Você pode pensar, ‘ah, é isso?’. Mas ele era uma pessoa maravilhosa, que fazia questão de um abraço todas as manhãs, que trazia temperos pra mim de sua fazenda e que tratava o meu marido com muito carinho. Tudo isso sem regatear no meu salário. Nasceu na Itália, veio pra cá menino, sem sapatos, e construiu um piccolo império. Podendo morar onde quisesse, morava em uma casa de vila, em Vila Isabel – “pois aqui conheço todo mundo, minha filha, e me sinto em casa”. Vivia fazendo piada de si mesmo. Pediu pra ser enterrado nu, pois foi assim que veio ao mundo.
Minha tristeza não é de um lado só. Fiz trinta anos. Parecem mais, vistos de dentro. Penso se tenho realizações condizentes com minha idade. Verdade que meus amigos europeus sentem menos o peso dos 30. Nenhum deles comprou imóveis ou teve filhos antes dos 30. Mas eu sou brasileira, e aqui as coisas acontecem um pouquinho antes. Então dá um certo remorso, por ainda não ter feito muito. Tenho pensado também nas escolhas que fiz na vida. Nas erradas mais. Penso que naquele momento em que optei não tinha a dimensão que essa escolha tomaria em minha vida. Morar longe da família fica entre a opção certa e a errada. Me fez crescer muito, mas também não me escorou o crescimento. Muitas vezes fui mal orientada, muitas vezes chorei de saudades. Não pude ir ao enterro da minha bisavó. E a vida não é essa das visitas, a vida é o que acontece nos intervalos. Então, desde os 16 passo a vida longe de minha família. Da infância carrego uma amiga, a melhor, que mora longe. Viver é exílio.
Então é isso. Precisava. Falei. Voltemos às delicadas superficialidades.
Ando muito triste. Primeiro porque o meu chefe morreu. Você pode pensar, ‘ah, é isso?’. Mas ele era uma pessoa maravilhosa, que fazia questão de um abraço todas as manhãs, que trazia temperos pra mim de sua fazenda e que tratava o meu marido com muito carinho. Tudo isso sem regatear no meu salário. Nasceu na Itália, veio pra cá menino, sem sapatos, e construiu um piccolo império. Podendo morar onde quisesse, morava em uma casa de vila, em Vila Isabel – “pois aqui conheço todo mundo, minha filha, e me sinto em casa”. Vivia fazendo piada de si mesmo. Pediu pra ser enterrado nu, pois foi assim que veio ao mundo.
Minha tristeza não é de um lado só. Fiz trinta anos. Parecem mais, vistos de dentro. Penso se tenho realizações condizentes com minha idade. Verdade que meus amigos europeus sentem menos o peso dos 30. Nenhum deles comprou imóveis ou teve filhos antes dos 30. Mas eu sou brasileira, e aqui as coisas acontecem um pouquinho antes. Então dá um certo remorso, por ainda não ter feito muito. Tenho pensado também nas escolhas que fiz na vida. Nas erradas mais. Penso que naquele momento em que optei não tinha a dimensão que essa escolha tomaria em minha vida. Morar longe da família fica entre a opção certa e a errada. Me fez crescer muito, mas também não me escorou o crescimento. Muitas vezes fui mal orientada, muitas vezes chorei de saudades. Não pude ir ao enterro da minha bisavó. E a vida não é essa das visitas, a vida é o que acontece nos intervalos. Então, desde os 16 passo a vida longe de minha família. Da infância carrego uma amiga, a melhor, que mora longe. Viver é exílio.
Então é isso. Precisava. Falei. Voltemos às delicadas superficialidades.
DESABAFO
Reviewed by vivianne pontes on
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Esse é um blog de decoração, portanto um blog delicadamente fútil. Mas quem escreve esse blog não leva uma vida fútil e nem superficial. Sor...
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Olá. Muito bom o seu blog. COnheci hoje, e não concordo quando vc diz que é um blog de futilidades. Pra mim está sendo bem útil. Você escreve muito bem, e esse seu texto de desabafo me tocou muito. Parabéns pelo excelente blog. Já está no meu reader, claro.
ResponderExcluirBj
Pôxa Márcio, muito obrigada.
ResponderExcluirVivianne, que coisa linda: "Então, desde os 16 passo a vida longe de minha família. Da infância carrego uma amiga, a melhor, que mora longe. Viver é exílio." Assino embaixo, concordo demais.Tenho o dobro de sua idade, mas me sinto próxima em muita coisa.
ResponderExcluirGrande abraço, continuo a conhecer seu blog, adorando,
clara lopez