FASES

Essa foto é de um cantinho da minha casa. É só um cantinho, mas com tanta referência pessoal. Uma foto minha e outra do André quando crianças, uma mini-pia de água benta trazida de nossa primeira viagem juntos a Ouro Preto. O móvel da máquina de costura da avó dele, que ainda vamos restaurar. Minha colcha de fuxico, uma parte da coleção de bonequinhos do André (ele ama robôs). Flores do meu florista favorito, lá de Vila Isabel. E um quadro da Fernanda Fonseca: o Merlin. Você sabia, Fernanda?

A minha casa, a sua casa, casas, são um quebra-cabeças que vamos montando ao longo da vida. Desmontá-las é tão doloroso, que chega a ser libertário.

Nossos melhores amigos estão desmontando sua casa. Vão passar um tempo trabalhando num navio, então não precisam de uma casa (e não escutaram meus protestos de que precisamos sempre de um porto seguro).

Enfim, vivi um longo tempo na base de que "home is where your suitcase is", então sei o quanto isso nos torna diferentes. E sei que muito do meu carinho e cuidado para juntar todas as peças da minha casa hoje vêm daí: de viver cada dia em um lugar e - como sempre diz o meu pai de mim - ter raízes fincadas n'água. Uma hora dá vontade parar.

Mas a vida é essa. Fases. E cada uma delas deve ser vivida intensamente. Boa sorte. E vocês terão sempre um porto seguro: nossa amizade.

E em 200quando escrevi no bulabula: Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos de outras terras, queria mesmo neste instante era voltar. Em minhas andanças eu quase nunca soube se estava fugindo de uma coisa ou caçando outra. Nessa brincadeira passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida. E as vezes reparamos que é ela que se vai, e nós (às vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando.