O GRITO E A OBRA - PARTE III
Vejamos o teatro. A tragédia grega é uma encenação da dor, em todos os seus disfarces, da dor física à dor pela perda, da dor pela privação à dor da ferida mortal, da dor de amor à dor de ódio que transfigura a face. A arte cristã também é fundamentalmente a arte da representação da paixão de Cristo; da história do seu martírio e de sua dor extrema.
Mas muita gente resolve transformar a sua própria dor, grande ou pequena, eventual ou diária, física ou emocional, em outra coisa. Recebi emails de mulheres (e de pelo menos um homem) muito especiais falando sobre como, depois de uma grande perda ou um acidente, buscaram novos interesses e passaram a produzir coisas belas. Nesses casos a “dor” funcionou como ruptura e novo começo. São pessoas como nós, você e eu, que perceberam que nada é tão ruim que não possa piorar, e resolveram dar um fim nisso, abrir uma janela pra receber um vento fresco. E assim bordam, pintam, costuram, criam.
Meninos, meninas: a dor como força criativa é fantástica. Então, da próxima vez que você sentir uma dor metafísica (a velha azia), e não conseguir sorrir, pense: como vou transformá-la em algo positivo? A dor vai ficar menor, e você maior. (Quanto à dor física, primeiro procure um médico, trate a causa.)
3 observações:
1 – Às vezes os meus pés tocam o profundo, mas o que vejo, e se reflete nos meus olhos, é o raso.
2 – Mesmo convivendo com a dor, isso não fez de mim uma artista. Mas me lapidou bastante.
3 – Descobri que, tal como eu, bem, (coço a garganta) e Diogo Mainardi, João Cabral de Mello Neto, não gostava de música.
P.S.: A imagem é da Tara McPherson, que em Janeiro vem visitar a terra brasilis e a Choque Cultural, galeria da Mariana.
O grito e a obra - Parte I
O grito e a obra - Parte II
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O GRITO E A OBRA - PARTE III
Reviewed by vivianne pontes on
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Fernando Pessoa escreveu aquela quadra que todos conhecem: o poeta chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. Às vezes a dor é b...
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