Gosto se discute I
Eu não sabia ler e não agüentava o peso daquela coleção com histórias de H.C. Andersen. Eram livros enormes com desenhos de irmãos que tinham asas, gênios de roupas vermelhas e mulheres com mantos estampados. Aqueles desenhos ficaram na minha memória e lembro deles sempre que penso em contos de fadas. (Só muito recentemente descobri que eram desenhos de Harry Clarke.)
Conheço um menino que passou a infância com um exemplar da Divina Comédia, ilustrada por Doré, na cabeceira. O encantamento com os desenhos sendo mais forte que o pavor que eles lhe provocavam.
Pense uma criança que ainda não tem informações que lhe permitam avaliar o porquê de gostarem mais ou gostarem menos de uma imagem. Mesmo sem saber explicar, ela sabe o que gosta e o que não gosta. E nem sempre a relação imediata é com o belo e o bom, vide o terrível inferno de Doré. O gosto é antes e primariamente ligado às sensações que a imagem nos provoca. E nem sempre “a beleza coincide com a harmonia e a proporcionalidade das partes, segundo regras explícitas.”
Esta capacidade de julgar é uma espécie de sentido inconsciente (tacito quodam sensu) que todos os homens possuem. Mas que ao longo da vida vai agregando outros elementos, tais como identificação com um grupo ou pessoa, elementos de memória, e conhecimento formal adquirido.
O filósofo Immanuel Kant analisou plenamente o juízo do gosto, e embora eu não concorde com ele em diversos pontos (não que alguém em sã consciência dê alguma importância pro que discordo de Kant), concordo quando diz que o gosto é algo que fica entre a imaginação e o entendimento.
Continua aqui.
Gosto se discute I
Reviewed by vivianne pontes on
.
Eu não sabia ler e não agüentava o peso daquela coleção com histórias de H.C. Andersen. Eram livros enormes com desenhos de irmãos que tin...
Rating: 5