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Tutoriais:

TUTORIAL

Carolina e os sofás #1


Por Carolina Mendes

Nunca vou entender essas fulanas, beirando os 300 anos de idade, que decidem não só que vão voltar aos áureos tempos da juventude, mas que serão lindas. Lindas como nunca foram. Quase sempre acabam com um visual quase mutante. Natural como implante de silicone de 3 milhões de litros.


Reformas radicais nos 40 do segundo tempo: não funciona em humanos, não funciona em sofás.

Diria minha avó que “é batata”: só chamar um tapeceiro pra fazer um orçamento, pra reformar um sofá que é velho, mas a gente julga por algum motivo misterioso que não deve ser substituído e sim reformado, e a desgraça começa.

A promessa é sempre a mesma: vai ficar melhor que um novo.


Não, não vai. Iria, no máximo, ficar tão bom quanto era quando novo. Iria, se você não tivesse caído na conversa do tapeceiro que pelo preço de um novo, te convenceu a não só restaurar, como reformar seu sofá.

Entenda, estou falando de ir além de trocar o estofamento e dar um tapa nas molas e almofadas, to falando de remodelagem.

Acredite, vai ficar uma merda.


Aí, depois de 6 meses do sofá pronto, você desenvolveu uma fisgada na lombar, um bico de papagaio, e resolve dar um jeito na situação. E chama um segundo tapeceiro, que instantaneamente diagnostica o problema e faz "um precinho bom pra senhora arrumar de uma vez", piora. Piora num nível que torna a coisa insustentável, e você tem que comprar um sofá novo.

Comecei faz alguns meses, uma coluna no Marketing na Cozinha sobre a orkutização dos alimentos. Isso despertou em mim um olhar crítico sobre o mundo.

Mentira. Sempre fui assim chata.

Chatice que piorou quando trabalhei durante 9 anos em uma galeria de artes.

Colecionadores e clientes civis à parte, lidei durante grande parte deste tempo com um exército de decoradores. Decoradores de todo tipo, dos competentes e renomados arquitetos de interior, às peruas que fizeram um curso de 1 mês de decoração pra não pagarem um profissional.

Teve uma fulana, que levou à galeria amostras dos tecidos que iria usar na decoração, pra encontrar uma tela “não muito cara” e que tivesse “esse tom de laranja”, pra “ficar harmonioso”. Não estou aqui dizendo que sua casa tem que ter a variedade e exuberância de um projeto do Sig Bergamin, porque não é pra qualquer um, mas porra, um laranja que seja igual ao laranja da almofada? Aí é de cair o cu da bunda.

Pior é que, mercenária que eu sou, passei 2 horas procurando algo que ficasse harmonioso com o tal laranja dela. Quero ver se a tela será trocada junto com as almofadas, daqui há uns anos. Tomara que sim.

Histórias infinitas pra contar, muito sobre o mercado, muito sobre as particularidades e mais ainda sobre as cagadas. Esta é a idéia, escrever nesta coluna sobre causos e resmungos desse maravilhoso mundo da arquitetura e decoração.

Porque cá entre nós, o que não falta é merda, picareta, e espertalhão autodidata e autosuficiente por aí.

Carolina Mendes é paulistana, escritora e implicante.
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