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TUTORIAL

Personalizando pra ficar igual #11


Por Carolina Mendes

Tem uma coisa medonha aqui em SP (uma de muitas, admito): adesivos da "Família feliz". Não sei se é uma coisa dessa cidade, ou do Brasil, ou do planeta. Mas aqui é uma praga.


Tá ali no porta-malas. Adesivos de bonequinhos: um casal, duas crianças e um cachorrinho. Uma "Família feliz". Pra quem não sabe, os indivíduos são vendidos em adesivos separados e a pessoa compra de acordo com a família que tenha.

Um amigo disse outro dia que rico não tem adesivo de família feliz no carrão pra evitar sequestro. Me pergunto se não seria mais eficiente não ter um carro que chame tanta atenção. Mas, né? Não sou rica, não devo entender a lógica. Embora qualquer lógica que evite os tais adesivos mereça apoio.

Estão por toda parte, e com o ever-growing trânsito mutante, populam a paisagem que obrigatoriamente admiramos quando nos aventuramos na hora do rush. Coisa mais classe média-média que existe. Implico mesmo.

Principalmente com gente que chega ao cúmulo de ter uma família feliz de uma pessoa e um cachorro. E de uma pessoa sozinha (sim eu já vi). O que essa gente tem na cabeça?

Nenhuma relação com decoração, mas como a pauta é sobre adesivos, me permiti fazer o comentário.

Post passado eu pedi sugestões de como mudar meu criado- mudo. Uma alma bem intencionada sugeriu adesivar. Foi aí que eu percebi que odeio essa coisa toda. Chega de adesivar parede com tronco seco de árvore, com gaiola, com borboleta, com tribal, com arabescos, com frases, com gracinha. Sério.

Adesivar é a versão bricolagem do mural. Daquele Painel que um artista fazia (faz) em uma das paredes.

É isso que vocês estão tentando fazer?

Personaliza a parede, dá um toque especial. Personaliza NIONDE se estão todas as paredes ficando iguais? Vai chegar num ponto em que vai ter mais personalidade uma casa não personalizada, que esses ninhos de lugar- comum que vocês julgam refletir qualquer traço de individualidade.


Todas as casas de gente que personaliza ficam parecidíssimas. Uma parede colorida, a parede branca com um detalhe adesivado, um móvel de brechó pintado de colorido, um canto com quadrinhos, um tapete colorido, alguns itens de design, uns posters.

Aposto que descrevi a casa de uma montanha de leitoras.

Ah, mas o adesivo (que é produzido em escala industrial) deixou a sua parede personalizada, seu aparador de brechó foi personalizado com tinta.

Nada de errado, mas saibam que tentando ser diferentes, vocês acabaram todas iguais. Personalizadamente comum. Só se for. Comum e ordinário. Entendam isso. E, uma vez entendido, percebam que isso não é ruim.

Calma, tá tudo bem agora.

Carolina Mendes é paulistana, escritora e implicante.
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