As tenebrosas carrancas

carancas - cultura antropológica - artesanato em casa - contra maus olhados

Por Franciel Cruz

"Ao contrário da doce infância do menino Casimiro de Abreu, a aurora da minha vida, que os anos não trazem mais, nunca foi habitada somente por amor, sonhos, flores e tardes fagueiras. Nero ar. Além da seca medonha, que me tangeu de lá pra cá (alô, Patativa do Assaré), padecia com diversas outras assombrações. E uma das mais terrificantes, especialmente para quem, como este nostálgico locutor, cresceu razoavelmente próximo às margens do Rio São Francisco, eram as tenebrosas Carrancas.

Amigos de infortúnios, em verdade lhes confesso: aquelas imagens com dentes afiados, cabeleiras longas, olhos esbugalhados, testas imensas, meio gente, meio bicho, perturbavam nosso imaginário com mais força do que os horrendos refrões da novíssima música baiana. Não era à toa que os barqueiros de antanho as colocavam na proa das embarcações para espantar os maus espíritos. Aliás, aos desprovidos de sabença, informo que as ancestrais imagens foram usadas até pelos fenícios (obrigado, Google).

E já que enveredei pelos caminhos da falsa erudição, vou lhes instruir ainda mais sobre o tema, sacando do coldre um trecho do artigo do doutor em letras Jairo Nogueira Luna. Às aspas. “As carrancas são o resultado, a nosso ver, de um cruzamento de influências do imaginário cristão português, notadamente do âmbito dos navegadores e exploradores, transposto para o cenário da colonização do sertão, misturados sobremaneira com fortes doses do imaginário africano e ameríndio”.

Valei-me, Minha Nossa Senhora da Miscigenação!!!
♥ Quer saber mais sobre as carrancas? O documentário "Carrancas do Corrente" apresenta carrancas e carranqueiros da região do Rio Corrente e do São Francisco. O filme tem aproximadamente 29 minutos, e está disponível no Youtube. 1a parte. 2a parte.
♥ Sobre Francisco Biquiba dy Lafuente Guarany, nosso mais importante carranqueiro, cujas carrancas ilustram este post - 1a e 2a fotos - tem um texto aqui. E uma matéria aqui.
O Franciel escreve sobre futebol. Mas eu, que não sou afeita ao esporte das pelotas, o leio é pela verve mesmo, pelo que posso afirmar que o único futebol que acompanho é o baiano. Minto, e corrijo: é o Vitoriano.
Por fim, pergunto: você tem/teria uma carranca decorando sua casa?
As tenebrosas carrancas Reviewed by vivianne pontes on . Por Franciel Cruz "Ao contrário da doce infância do menino Casimiro de Abreu, a aurora da minha vida, que os anos não trazem mais... Rating: 5

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