Crônica: O zen e a arte da manutenção de uma casa
Por Pedro Fernandes
Simone de Beauvoir teria formulado, embora jamais tenha escrito, que não se nasce dona-de-casa, torna-se dona-de-casa ao comprar panos-de-pratos novos porque os velhos estão "de fazer vergonha". Claro que antes da epifania propriamente dita alguns sinais se manifestam. Estão entre eles o olhar torto para o amigo que insiste em pisar no tapete da sua sala sem tirar o sapato, a troca das toalhas do banheiro por outras mais frufrus em dia de visita, e calafrios diante de migalhas no sofá.
Mas é o momento em que se manifesta a preocupação com ordinários panos-de-pratos é o verdadeiro turning point na vida de quem até então era apenas responsável por uma casa, mas não podia ostentar o título de dona, que deve ser aplicado assim no feminino, mesmo a quem pertença ao sexo masculino. Não como deboche machista para tentar diminuir o homem que se dedique com gosto ao lar, mas com orgulho de abraçar a nobreza da técnica, quiçá filosofia, aprimorada por mulheres.
Filosofia que sintetiza apolíneo e dionisíaco, uma vez que por meio dela se busca a manutenção da ordem em nome do conforto e, sobretudo, da beleza. Completa a transformação (a carteirinha da ordem é entregue no dia da compra da louça fina que não deve ser usada jamais, sob pena de perder o registro), nada poderá se comparar a alegria extraída de um taco brilhando, e ao gozo ante a visão das roupas passadas penduradas cheirosas no guarda-roupa, feito aqueles desenhos complexos que os monges zen fazem na areia, desmanchados depois de horas ou dias de dedicação, como exercício da transitoriedade das coisas. E nada pode ser mais transitório que uma pia limpa.
Pedro Fernandes é jornalista, trabalha na tv Brasil, e é dona-de-casa
♥ N da E.: Esse não é o Primeiro post do Pedro no dcoracao.com. O primeiro foi esse outro. Mas este cá me lembrou aquele post, "eu sou uma pessoa antiga". E você? É dona de casa?
Simone de Beauvoir teria formulado, embora jamais tenha escrito, que não se nasce dona-de-casa, torna-se dona-de-casa ao comprar panos-de-pratos novos porque os velhos estão "de fazer vergonha". Claro que antes da epifania propriamente dita alguns sinais se manifestam. Estão entre eles o olhar torto para o amigo que insiste em pisar no tapete da sua sala sem tirar o sapato, a troca das toalhas do banheiro por outras mais frufrus em dia de visita, e calafrios diante de migalhas no sofá.
Mas é o momento em que se manifesta a preocupação com ordinários panos-de-pratos é o verdadeiro turning point na vida de quem até então era apenas responsável por uma casa, mas não podia ostentar o título de dona, que deve ser aplicado assim no feminino, mesmo a quem pertença ao sexo masculino. Não como deboche machista para tentar diminuir o homem que se dedique com gosto ao lar, mas com orgulho de abraçar a nobreza da técnica, quiçá filosofia, aprimorada por mulheres.
Filosofia que sintetiza apolíneo e dionisíaco, uma vez que por meio dela se busca a manutenção da ordem em nome do conforto e, sobretudo, da beleza. Completa a transformação (a carteirinha da ordem é entregue no dia da compra da louça fina que não deve ser usada jamais, sob pena de perder o registro), nada poderá se comparar a alegria extraída de um taco brilhando, e ao gozo ante a visão das roupas passadas penduradas cheirosas no guarda-roupa, feito aqueles desenhos complexos que os monges zen fazem na areia, desmanchados depois de horas ou dias de dedicação, como exercício da transitoriedade das coisas. E nada pode ser mais transitório que uma pia limpa.
Pedro Fernandes é jornalista, trabalha na tv Brasil, e é dona-de-casa
♥ N da E.: Esse não é o Primeiro post do Pedro no dcoracao.com. O primeiro foi esse outro. Mas este cá me lembrou aquele post, "eu sou uma pessoa antiga". E você? É dona de casa?
Crônica: O zen e a arte da manutenção de uma casa
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Por Pedro Fernandes Simone de Beauvoir teria formulado, embora jamais tenha escrito, que não se nasce dona-de-casa, torna-se dona-de-cas...
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